MT: Estado não dá assistência a transgêneros
Por falta de unidade de saúde referenciada e de profissionais predispostos ao atendimento, travestis e transexuais não têm acesso aos serviços públicos de saúde em Mato Grosso.Por causa disso, diversas transexuais esperam há anos pela assistência
Por falta de unidade de saúde referenciada e de profissionais predispostos ao atendimento, travestis e transexuais não têm acesso aos serviços públicos de saúde em Mato Grosso.
Por causa disso, diversas transexuais esperam há anos pela assistência de preparação à cirurgia de transgenitalização - mudança de sexo - sem expectativa sobre data para realização do procedimento.
Do mesmo modo, as travestis que não planejam passar pela intervenção cirurgia, porém precisam do tratamento de adequação hormonal, não conseguem acompanhamento especializado.
O tratamento hormonal é necessário e previsto no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2008, ratificado na portaria 2.803, de 19 de novembro de 2013, do Ministério da Saúde. No Brasil, o transexualismo é classificado como doença, denominada Transtorno de Identidade de Gênero (TIG).
Na portaria em vigor, a adequação à aparência, que era restrita ao homem que busca ajustar-se à condição feminina, agora contempla o inverso, ou seja, a mulher que quer a masculinização.
Em Cuiabá, quatro transexuais femininas estão na lista de espera pela cirurgia, outras duas em Rondonópolis e diversas espalhadas pelos demais municípios. Como aqui não há hospital credenciado para fazer a transgenitalização essas pessoas deveriam ser encaminhadas para outros centros urbanos por meio do serviço de TFD (tratamento fora do domicílio).
Antes desse encaminhamento, todos os pacientes deveriam receber tratamento multidisciplinar durante dois anos. Entre os profissionais listados pelo SUS no pré-operatório estão: clínico geral, psiquiatra, endocrinologista, urologista, além de psicólogo, assistente social e enfermeiro.
A transexual V.S.R., 23 anos, denuncia que a recusa de atendimento nas unidades de saúde engloba profissionais de todas as especialidades listadas. “É um jogo de empurra sem fim entre os profissionais e os órgãos de gestão do SUS”, reclama.
Ela conta que os dois médicos com os quais buscou atendimento não quiseram atendê-la alegando não ter capacitação para o serviço e a necessidade de estar integrado a equipe multidisciplinar credenciada.
As consequências da falta de acompanhamento são inúmeras, entre as quais a automedicação, com superdosagem de contraceptivos femininos, principalmente os injetáveis, como forma de atingir as alterações físicas necessárias.
De acordo com V, há transexuais e travestis que chegam a tomar uma dose por semana de anticoncepcionais que deveriam ser usados a cada 30 dias. Elas buscam, por exemplo, o crescimento dos seios, das nádegas e mudança de voz com os hormônios presentes nesses medicamentos.
Há ainda, os casos mais graves, que correm riscos de morte, que são aqueles em que as travestis aplicam o hormônio diretamente no corpo.
V, que é estudante universitária, diz que desde aos 14 anos definiu sua condição feminina e aos 17 assumiu a transexualidade. A partir dai, conta, passou a usar, por conta própria, anticoncepcionais injetáveis. Em doses altas e com tamanha constância que chegou a apresentar diversas crises de taquicardia (aceleramento da frequência cardíaca).
Se dizendo preparada psicologicamente para a mudança de sexo, V acusado o Estado de violar seus direitos, assim como de outras transexuais, de acesso aos serviços pré-operatório.
Fonte: Diario de Cuiaba
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