MT não mede impacto do turismo no Pantanal
O turismo na região do Pantanal tem sido negligenciado por órgãos ambientais, pesquisadores e por quem explora comercialmente a maior planície alagada do mundo. O Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP) organizou dois eventos com a comunidade acadêmica
O turismo na região do Pantanal tem sido negligenciado por órgãos ambientais, pesquisadores e por quem explora comercialmente a maior planície alagada do mundo. O Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP) organizou dois eventos com a comunidade acadêmica para discutir o tema em Cuiabá (MT) e em Campo Grande (MS) e chegou-se à conclusão de que não há pesquisas avaliando o impacto de embarcações nos rios, o comportamento dos animais com a presença dos seres humanos, os malefícios e o resultado das visitações em ninhais.
Um dos resultados do turismo desenfreado no Pantanal é a ‘ceva’ da onça-pintada para garantir que os turistas possam pagar caro e ver o maior felino das Américas. A organização não-governamental Instituto Homem Pantaneiro, com sede em Corumbá (MS), denunciou ao Ministério Público Federal (MPF) de Mato Grosso do Sul a prática proibida.
Turistas e guias jogam carne para os felinos e com o tempo eles passaram a se habituar a ir no mesmo local para conseguir alimento fácil, assim deixam de seguir seus instintos de caçada e busca por alimento em seu território. Do lado de Mato Grosso, a prática é um boato que todos sabem que se faz, mas ninguém assume ou denuncia.
Dono de duas pousadas no Pantanal Norte, dois na região do Porto Jofre, o empresário e observador de onça, Diego Nunes Rondon disse que já ouviu rumores de que a prática ocorre, mas nunca viu ou ouviu alguém assumir a prática. “Se existe isso eu não sei, mas tenho notado que elas estão chegando cada vez mais perto. Nunca se provou se há ou não ceva na região, mas os rumores são de que isso ocorre na beira do rio, mas acho que não passa de intriga entre proprietários de pousadas”.
Rondon diz que não há estudos científicos que comprovem se houve ou não aumento da população dos felinos, mas ele diz que a observação da onça pintada é muito mais frequente hoje do que sete anos atrás, quando ele investiu na sua primeira pousada.
Há turistas que pagam 5 mil dólares só para vê-la de perto. É proibido até mesmo jogar peixe para elas. “O risco é da onça associar a presença dos humanos com comida, isso pode representar um grande perigo”.
A informação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros, do Instituto Chico Mendes (ICMBio), é de que a prática existe em função do turismo de observação e para chamar a atenção da onça jogam carcaça de jacaré ou peixe.
Em Mato Grosso, a prática é proibida por lei do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) e é caso de polícia, pois se deparar com o felino tem que ser natural. O órgão informou que não se sabe se a população aumentou ou as onças passaram a andar mais em seu território. A afirmação precisa ser sustentada por estudos científicos.
TURISMO DESENFREADO – Na região de Porto Jofre, o empresário Daniel Rondon afirma que às vezes chegam 25 barcos ao mesmo tempo na procura de avistar a onça pintada. Contudo, da mesma forma que carece de trabalhos que mostrem se houve aumento ou não da população de onças pintadas, faltam trabalhos sobre o impacto da atividade no pantanal.
Um dos membros do CPP, Jaime Okamura, representou Mato Grosso na reunião em Campo Grande para debater o tema. A primeira ação foi realizar levantamento sobre os impactos do tráfego e se havia alguém pesquisando o turismo no Pantanal Norte e Sul.
“Foi proposto estudo em Corumbá e Porto Murtinho no Mato Grosso do Sul e em Barão de Melgaço e Poconé, em Mato Grosso, que será realizado pela UFMT, UEMS e UFMS e discutir modelos de turismo com a população pantaneira.
A população local não envolve com o turismo. Bonito é um exemplo da comunidade local que não participa da economia do turismo, ela fica à margem e sofre com os produtos encarecidos”, exemplificou. Okamura dá exemplo do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães que após ser controlado pelo ICMBio passou a ter regras para a conservação do local, contudo, não houve diálogo com a população da cidade para discutir os motivos de limitar a entrada para 100 pessoas.
De janeiro a dezembro de 2015 serão realizadas duas oficinas em Mato Grosso e duas em Mato Grosso do Sul para discutir o tema. “Se continuar o turismo do jeito que está, não sabemos como serão as condições do Pantanal daqui a 20 anos. Mas os estudos de impacto vão precisar do envolvimento da comunidade para entender as razões das limitações que poderão ser propostas”.
A Gazeta
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