Planilhas mostram propina para 24 deputados e suplentes na AL-MT
paga por empreiteiras contratadas para executarem as obras do MT Integrado.
As planilhas de controle de pagamento apresentadas pelo chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), Sílvio Cezar Corrêa Araújo, apontam que 24 deputados estaduais e suplentes da última legislatura foram contemplados com pagamentos supostamente irregulares, fruto de propina paga por empreiteiras contratadas para executarem as obras do MT Integrado.
Aos membros da Procuradoria-Geral da República, ele explicou que não conseguiu gravar os pagamentos a todos os políticos e que algumas das parcelas foram quitadas dentro da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). Dos supostos beneficiados com os recursos, 11 continuam deputados estaduais, dois se tornaram prefeitos e um seguiu para a Câmara dos Deputados.
Entre os 15 apensos e três volumes que compõem a delação de Silval, Sílvio, da ex-primeira-dama, Roseli Barbosa, do filho de Silval, Rodrigo Barbosa, e do irmão do ex-governador, Antônio Barbosa, estão as imagens captadas por ele de políticos recebendo o dinheiro e 11 planilhas com anotações sobre os supostos pagamentos, relativos ao primeiro semestre de 2013.
Ele revelou que apenas dois deputados não receberam as parcelas do acordo das mãos dele, Zeca Viana (PDT) e Guilherme Maluf (PSDB), muito embora o nome do tucano apareça em uma relação, escrita à mão, de supostos beneficiários.
Conforme Sílvio, entre os anos de 2012 e 2013, ele foi informado por Silval da existência de um acordo com os deputados, que receberiam R$ 600 mil cada um, valor dividido em 12 parcelas. O dinheiro para a quitação de mais esta conta seria providenciado pelo então secretário adjunto de Infraestrutura, Valdísio Juliano Viriato, encarregado de recolher a propina das empresas.
Os pagamentos eram feitos geralmente em dinheiro e no gabinete de Sílvio, que revelou que os deputados iam pessoalmente buscar a parcela mensal do acerto. Apenas o deputado Sebastião Rezende (PSC) em algumas vezes encaminhou uma pessoa da família para fazer o recebimento, a exemplo do ex-deputado Airton Rondina Luiz, o Airton Português (PSD), conforme gravado pelo ex-chefe de gabinete.
Aos procuradores, ele explicou que em algumas ocasiões ia pessoalmente à ALMT para fazer a entrega do dinheiro, o que ocorria, segundo Sílvio, no gabinete do então primeiro-secretário, o deputado Mauro Savi (PSB). Em duas ocasiões ele teria deixado o dinheiro ao parlamentar, que efetuaria os repasses aos colegas.
Sílvio contou que desde o início tentava obter um recibo que confirmasse a quitação da dívida, mas foi informado pelo deputado Romoaldo Júnior (PMDB) que nenhum parlamentar assinaria qualquer documento, ficando o acordo mantido “na palavra”. Nem sempre as empreiteiras que pagavam a propina “honravam o acordo” e Sílvio conta que sofria enorme pressão dos deputados. Para saldar as dívidas com os parlamentares, ele chegou a recorrer a operadores financeiros que conhecia, obtendo empréstimos quitados quando o fluxo da propina era normalizado. A fonte de recursos também variava e, em três ocasiões, o dinheiro saiu de vantagens indevidas arrecadadas na extina Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo de 2014 (Secopa).
A lista dos pagamentos a serem feitos, apresentada por Sílvio à Procuradoria-Geral da República (PGR), foi elaborada por Romoaldo, à época líder do governo no Legislativo, ou Savi, após uma reunião em que reclamações de políticos que tinham recebido o dinheiro, mas alegavam que não, foram apresentadas.
Embora não tenha recebido os recursos provenientes da propina, Zeca teria cobrado, certa vez, o ex-chefe de gabinete, dentro da ALMT, sendo informado por Sílvio que não tinha direito a este dinheiro por não estar na relação elaborada por Romoaldo ou Savi. Já Maluf não receberia das mãos de Sílvio porque, conforme o ex-governador havia contado a ele, o tucano tinha um outro acerto com Silval. Já Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), chegou a pegar duas parcelas, enquanto o restante foi acertado diretamente por ele com Viriato.
A ideia de gravar alguns dos recebimentos da propina partiu do próprio Sílvio, por conta da pressão sofrida por ele e Silval, feita pelos deputados. Ele explicou que comprou uma câmera em São Paulo, a instalou em uma antena parabólica que ficava em sua sala e contou com a ajuda de um servidor para ajustar a imagem captada.
OUTRO LADO
Atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB) afirmou que as imagens veiculadas são “totalmente deturpadas” e negou o recebimento de propina. Marido de Luciane Bezerra (PSB), atual prefeita de Juara, o deputado Oscar Bezerra (PSB) afirmou que o pagamento se tratava de uma dívida que Silval tinha com ele.
Maluf negou ter pedido ou recebido qualquer vantagem indevida, a exemplo de Barreto e Ezequiel Fonseca (PP). Já Savi lembrou que não está entre os investigados a pedido do procurador-geral, Rodrigo Janot e que a citação quanto ao seu nome não possui nenhuma prova.
O ex-deputado Alexandre César (PT) afirmou que embora as imagens talvez não sejam justificáveis, a versão dada pelos delatores (ex-governador e seu chefe de gabinete) de que lhe pagavam propina mensal para assegurar apoio parlamentar na Assembleia Legislativa não é verdadeira. Os fatos não se deram nem da forma, nem ao tempo e tampouco nos valores anunciados. A reportagem não conseguiu contato com os demais citados.
Fonte: A Gazeta
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